segunda-feira, 15 de agosto de 2011

*Hoje Acordei Com Cem Anos...

 

Um despertar diferente me leva a
crer que fiquei com cem anos da noite para o dia. Percebo o pensamento, outrora
célere, parado. Nada dentro da cabeça, todos os nervos embaçados numa farra
desordenada e alegre de neurônios em férias. Sensação estranha e boa, afinal.
Parece que terminou o tempo de pensar. Agora é flutuar. Nem sei meu
nome.
Meus ossos são gravetos arqueados e doloridos e as passadas, leves.
Bom não ter vigor. Vigor cansa.
Meu dia de cem anos começa sem tarefas a
cumprir. Sem pesos a carregar e sem novidades a lembrar. O mundo parece só meu e
de tanto viver, nada devo a ninguém.
De mansinho um ou outro lembrete da
vida começa a se derramar e não vem de dentro de mim. Vem de fora, de uma folha
de papel jogada ao qual tropeço. Pareço um embrulho roto arrastando a vida que ficou para trás.
O mundo, vazio de futuro, parece comigo. Uma velha
cansada. Minha alma jaz ao meu lado, prostrada e cinza, suplicante para voltar
ao corpo.
Entretanto, o tempo não parou como eu pressentia. Queria
apreciar o nada. Queria enxergar o velho. Queria me enxergar.
E só
consigo ver o caminho passado com tantos afazeres empilhados e aprumados que me
custa acreditar que aquela fui eu. Cada vez mais jovem, ocupada e tarefeira,
pois na lembrança nada me segurou no cumprimento da rotina. E a viagem de volta
continua, agora bem rápida.
Engraçado como velho anda rápido para
trás!!!!!
Com avidez, a mente abre todas as gavetas e a realidade
transborda de dentro delas tal qual lingeries de seda macias, coloridas e
jovens.
E, agora lembrei, meu dia de cem anos vai acabar. Como o
feriado.

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