"Quando João Alexandre lançou “É proibido pensar” em 2007, aquilo me soou com uma confirmação de que eu realmente não estava ficando louco. De fato, havia uma indústria comercial por trás daquele cenário gospel que de forma insidiosa comprometia os conceitos de arte, reduzindo-a a mercadoria, e o pior, comprometendo a mensagem do Evangelho.
Naquele ano (2007), o gospel já havia limpado a memória de muitos evangélicos de décadas passadas, mas não de todos, assim como dado um tom musical moderno para aquela geração de jovens evangélicos que adentravam o século XXI. Afinal, o louvor congregacional, a poesia e as canções contextualizadas, ambas pautadas do conteúdo das Escrituras, davam lugar a uma música de palco, com luzes, refrãos genéricos e danças. O pioneirismo de Vencedores por Cristo com canções referenciadas unicamente no Evangelho com o autêntico tom de brasilidade, a verdade e simplicidade do Grupo Logos, a ousadia do rock do Rebanhão, a poesia do Jorge Camargo, o cancioneiro congregacional do Asaph Borba e do Bené Gomes, por exemplo, já não eram tão ouvidos no fim dos anos 90, a saber, que o gospel já modelava a sua própria estante e estandardizava sua mercadoria musical.
No início tudo era novo, e por não existir ainda um mercado superabundante em lucros, por assim dizer, havia muita coisa boa. Naqueles primeiros passos não havia o selo gospel traduzido em grifes de roupas, bonecos, sapatos, bonés, e até sexy shopping... Não há como negar que após a gravação de seu primeiro CD em 1998, Diante do Trono inaugurara uma nova tendência musical no meio cristão (muito embora parodiando Hillsong). Eu me lembro bem de como era edificado com canções como “Aclame ao Senhor”, “Preciso de Ti”, dentre outras. Lembro-me também quando em 1999 o Kléber Lucas gravara “Deus Cuida de Mim” - que disco agradável. Por outra via, corriam as bandas de rock como Oficina G3, Resgate, e a Catedral, já saindo para uma proposta não-confessional.
Com poucas exceções, o cancioneiro gospel foi piorando. A beleza das canções primeiras canções dava lugar a hits que mais pareciam gritos de uma espiritualidade irracional, como “Eu quero é Deus, não importa o que vão pensar de mim. Eu quero é Deus”! e chegara ao patamar de uma folia antropocêntrica e vazia como algo tipo, “para direita e para esquerda (...) por todo lado sou abençoado”!
Voltando a 2007, o cenário de nossa música já se encontrava muito confuso. Os mercenários da fé tomavam conta dos programas televisivos, uma parte do gospel descia o nível de suas composições, a outra parte já era dependente de hits traduzidos vindo dos EUA e Austrália, e dentro de nossas igrejas... o culto parecia não fazer sentido. Encantados com as produções de DVD’s os grupos de danças se multiplicavam nas igrejas (só que sem instrução alguma); os show’s em forma de culto se espalhavam Brasil a fora monetarizando os ícones do gospel que passavam a dar uma cara ao “Brasil Evangélico gospel”.
Quando a ficha caiu, foi que percebeu-se que o gospel se impôs de cima para baixo, de fora para dentro. O ápice de seu malefício, como certa vez comentou o Pr. Marcelo Gualberto (fundador da Mocidade Para Cristo) em uma de suas pregações foi que o gospel “tirou a Bíblia do centro do culto”! Sim, isto porque os pastores passaram a perder lugar para os “levitas” que cantavam aquelas canções esquisitas e ministravam em forma de “pregação”. A igreja passou, então, a domesticar o culto e a medir o seu valor pela música cantada e pelas sensações experimentadas, e não mais pelo alimento espiritual representado pela Palavra pregada.
Hoje, apesar da grande maioria dos evangélicos ainda associarem expressões como “crescimento, avivamento, benção material e música gospel” como sendo parte de um pacote de benção divida de Deus para o Brasil, eu ainda acredito que, andando nesta contramão, podemos fazer diferença a partir de nossas igrejas locais. Para isso, faz-se necessário que pastores e líderes, juntos com os músicos de suas comunidades sentem-se juntos, conversem sobre os fundamentos da nossa fé, a função da música na igreja, os conceitos de arte e mais do que isso, ao entenderem que precisam retornar a suficiência das Escrituras, o façam isso de forma convicta, firme e criteriosa, também em relação à música.
O gospel já está consolidado. Sua arte é mercadoria. Seu “deus” é o dinheiro. Seus cantores são celebridades. Portanto, fica-nos o desafio de reconduzir a igreja a ter contato com uma música proveniente de uma outra fonte. Contudo talvez alguém pergunte: onde eu encontro músicas centradas no Evangelho e de boa qualidade? Quer a lista? Faça o seguinte, comece pelo Vencedores Por Cristo, é um bom começo.
(Antognoni Misael, blogueiro, músico e curioso)
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