"JESUS, ÚNICA SAÍDA."
Dia 06/02/2001, eram 08:30 hs, momento que abriu-se a porta do inferno para mim. Confesso que fiquei assustado e ao mesmo tempo desolado. Quando entrei para dentro da prisão (melhor dizer da cadeia), notei imediatamente dezenas de olhares curiosos em minha direção. Fechou-se a porta estava no verdadeiro inferno, um local pequeno, cujo pátio media cerca de 30 m de comprimento por seis de largura. Um espaço destinado para cerca de no máximo 50 ou 60 presos e no momento abrigava cerca de 300. A primeira pergunta que os presos lhe fazem é: Qual seu artigo ou crime, depois disso várias outras perguntas, qual prisão já esteve, ou se é de alguma facção criminosa. Foi uma verdadeira entrevista por que passei, ou melhor, interrogatório. Isso é feito pelos “cabeças da cadeia” ou chefes, pois, assim o fazendo eliminam qualquer possibilidade de um preso de alguma facção inimiga adentre a cadeia(sela) Deles. Após o interrogatório inicial vem as perguntas de praxe para saber se voce tem algo na vida para que possa pagar para ficar numa cela melhor e mais confortável, se é que existia algum tipo de conforto naquele lugar. Existiam seis celas, cerca de 5 m² cada, onde deveriam ter no máximo 10 presos, ficavam cerca de 40 a 50, imagina-se ser humanamente impossível isso, mas, era a realidade que eu teria que encarar e não sabia por quanto tempo. Por ter um pouco de dinheiro na época, fui para a cela II, tinha menos presos, cerca de 36 e comprei uma rede, portanto, não teria que dormir no chão, eram muitas redes, uma sobre as outras, não conseguia entender como conseguiam fixa-las, mas eram fixas e firmes. Dormir em uma rede era um luxo que poucos podiam pagar, mas, um luxo extremamente necessário, pois, dormir no chão, era uma tortura, da forma que a pessoa deitasse, assim deveria permanecer até o dia seguinte, sem se mexer, um com a cabeça para cima o outro com a cabeça para baixo, eles chamavam “deitar de valete”, além deste desconforto, ter a sorte de nenhuma barata ou rato passar por voce. Banheiro não existia, havia um buraco, tomar banho apenas de baldinho e frio, não imaginava que o pior ainda estava para acontecer. Embora ainda tive sorte e poder dormir na rede sem sofrer tanto como muitos sofriam. Um dos cabeças começou a se aproximar de mim, fazia muitas perguntas, principalmente após notar que eu tinha um ótimo advogado que sempre estava presente naquela delegacia e principalmente depois de ver a minha mulher na época, bonita bem vestida e que trazia muita coisa para mim, além de dinheiro que ficava depositado no pecúlio para que eu pudesse comprar alimentação de fora. Nada me faltava, muito cigarro nacional coisa rara dentro das prisões e que vale como moeda corrente e custa bem mais caro, roupas boas, tênis de marca, coisas que eles presos dão muito valor. O Tempo foi passando e sempre era chamado a presença do delegado e e meu advogado para prestar depoimento e não era o único preso que era requisitado, a maioria o era, mas deste artifício usaram para começar a me chantagear. Um dia fui ao fórum e quando íamos, ficávamos fora por cerca de dois dias e quando retornei, o cabeça dos presos me chamou alegando que descobriram celulares e facas na cadeia e desconfiavam de mim. Lógico que não disse nada, nem sabia da existência de facas ou celulares, na verdade, havia ouvido comentário da existência disso sim, mas, não sabia quem tinha posse destes objetos, mas, mesmo assim, Disse que iríamos conversar quando as celas fossem trancadas e que ele ficaria lá dentro, somente os “mandões” podiam ficar no pátio durante a noite, cerca de 40 deles, dormiam em redes embaixo dos parapeitos, pois, não cabiam nas celas e Também o conforto lá fora era melhor e mais arejado, mas, naquele dia ele iria ficar dentro para conversar, usou um método e intimidação para comigo, e por outro lado, sabia que poderia acontecer algo. Quando foram trancadas as celas, vieram para cima de mim quatro. Eles antes de falarem já me agrediram, como nunca levei desaforo para casa os dois primeiros que vieram revidei, mas, depois foram mais dois e outros que Também entraram, porém, quando pensei que seria trucidado um outro preso gritou para parar, pois, se me agredissem e eu ficasse marcado, os policiais ou o delegado iriam querer saber o porque e acabariam tendo problemas. Deixaram então a agressão, mas, Vieram com as intimidações, dizendo se algo mais de errado acontecesse na cadeia, isto é, se os policiais descobrissem mais alguma coisa eu iria pagar caro. Não dormi esta noite, estava em alerta máximo, temendo ser agredido enquanto dormia. O dia amanheceu e para complicar mais as coisas, fui chamado a depor outra vez pelo delegado. Permaneci por horas prestando depoimento, ao terminar, chamei o chefe dos investigadores e pedi a ele que me deixasse na cela de fora da cadeia, expliquei que por ser muito requisitado a ir prestar depoimentos os presos estavam desconfiados de mim, argumentei e quase implorei para ficar na cela da carceragem, onde já haviam dois presos jurados de morte e que também não podiam entrar, alegou não ser possível, ainda tentei argumentar, mas, um outro policial falou que se eu morresse o único trabalho deles seria chamar o carro do IML e pronto um a menos e me colocaram de volta. Já estava escuro, era noite, portanto, as celas já estavam trancadas, ao cegar a porta da prisão, senti o clima pesado e tenso que me aguardava, ainda pedi mais uma vez, mas, mandou-me para a cela, todos os presos olhavam para mim como leões devoradores, eram todos ou quase “cobras mandadas” dos cabeças, pensei que seria trucidado lá dentro, assim que trancou a porta juntamente com o carcereiro, o chefe dos investigadores caminhou em direção a saída da cadeia, mas, de repente parou, virou-se e ficou como estagnado olhando para mim, imediatamente ordenou ao carcereiro que me trocasse de cela e me colocasse na cela 4, esta cela era uma espécie de local dos excluídos, ainda não marcados para morrer, mas, quase. Quando os policiais se retiraram, vieram todos os mandões a cela onde eu estava e chamaram-me. Olhando para aqueles homens, as feições deles iam se transformando para mim, naquele momento pareciam demônios, sim exatamente isso, tinham rostos e corpo de demônios sorrindo para mim e debochando, diziam se aproxime da porta, porque eu mantive uma distância em que não podiam me alcançar e eles diziam que eu sabia se desejassem entrar, entrariam porque não era aquele cadeado que impediria que entrassem, mas, não queriam pagar a conta pelo que acontecesse comigo, portanto, melhor seria que eu me matasse enforcando-me durante a noite, pois, seria uma morte mais rápida e menos dolorida do que a que eu teria no dia seguinte, pois, arranjariam um envolvimento em briga onde levaria a pior e me matariam da pior maneira e mais lenta possível. Disseram ainda, para que escrevesse uma carta para minha mulher e família dizendo que me matei por não aguentar ficar na prisão. Respondi a eles que não faria isso com minha própria vida. Então disseram para aproveitar bem cada minuto desta noite, porque seriam os últimos de minha vida. Claro que foi uma noite longa, olhava para aquelas paredes imundas e tinha vontade de arrebenta-las para poder sair dali, estava quase entrando em desespero, revi minha vida toda em poucos minutos, momentos bons e ruins, mas, nada foi tão ruim como estava sendo aquela noite. Depois de algum tempo, um preso já veio, me chamou e disse para não fazer nada, para não me matar porque havia conversado com eles que se algo acontecesse comigo acabaria sobrando para todos da cela deles, disse que me acalmasse que nenhum deles colocaria a mão em mim, e afirmou: dou minha palavra que não tocarão em voce amanhã. De qualquer forma, não iria me suicidar mesmo, mas, aliviou um pouco a tensão que sentia, acreditei nele porque era um preso antigo e respeitado pelos mais jovens, exatamente os que estavam fazendo tudo aquilo comigo. Não conseguia entender até o momento o porque disso tudo, sempre havia dividido tudo que chegava para mim com quem não tinha, muitas vezes paguei lanches e almoços para alguns que não comiam fazia tempo algo diferente, sempre fui cordial e ajudava no que podia, portanto, não conseguia entender o porque de inventarem aquela história toda e desejavam matar-me. Era alta madrugada, quando um preso me ofereceu uma Bíblia que por fim acabou me presenteando e disse, leia e consiga alguma paz. Honestamente, não estava disposto a fazê-lo, porque lá fora mal li a Bíblia e pensava porque o faria aqui dentro? Mas, quase que inconscientemente acabei abrindo a Bíblia em
Isaías 41, e inicialmente li os versículos 11 a 13:.
Eis que, envergonhados e confundidos serão todos os que se indignaram contra ti; tornar-se-ão em nada, e os que contenderem contigo, perecerão.
Buscá-los-ás, porém não os acharás; os que pelejarem contigo, tornar-se-ão em nada, e como coisa que não é nada, os que guerrearem contigo.
Porque eu, o SENHOR teu Deus, te tomo pela tua mão direita; e te digo: Não temas, eu te ajudo.
Confesso que me impressionei um pouco, mas, não acreditei totalmente naquelas palavras ali ditas, depois acabei por ler todo o capítulo. No dia seguinte, assim que as portas das celas foram abertas, veio até mim uma comissão de presos. Falaram tantas coisas que nem lembro, pois, fechei-me de uma forma que não os ouvia, apenas percebia os seus movimentos e me levaram para a antiga cela que eu estava para conversar com os outros presos. Senti-me acuado em meio a 35 presos me ameaçando de toda a forma, foi quando pela primeira vez clamei por Jesus meu Salvador e roguei a Ele... Meu pai... Confio em ti e em seu poder, não permita que me toquem. Foram estas as únicas palavras que pensei e roguei com muita fé, com toda a fé do meu coração que nem mesmo eu sabia existir. Pois não tocaram em nenhum fio de cabelo.
Mandaram-me de volta a cela e disseram para que não saísse de lá por nada, nem para assinar papeis se me solicitassem, eles levariam alegando que eu estava doente e não podia ir. Neste mesmo dia, após algumas horas novamente recebi a visita dos cabeças, mas, agora eram apenas dois, estavam mais amistosos e tratando-me de forma diferente. Foram diretos e objetivos, disseram que sabiam que minha mulher chegava num carro caríssimo e novo, eles queriam o carro em troca de minha vida. Foi ai que comecei a perceber que fora tudo armação desde o início para me extorquir. Respondi a eles que não podia dar o carro, pois, era financiado e as parcelas eram altas, descartaram o carro e pediram R$ 20.000,00 em dinheiro e que minha mulher teria que trazer na visita e entregar para a esposa de um eles que Também era criminosa e faria o pior com minha mulher lá fora. Eu deveria combinar com ela na visita que seria no dia seguinte e na outra semana ela deveria levar o dinheiro e que se ela ou alguém falasse ou denunciasse, além de me matarem, a matariam porque já sabiam até onde morava e Também tinham o telefone e realmente o tinham. Falei que tudo bem e que iria pedir para trazer o dinheiro na semana seguinte e ainda disseram, se não trazer, desta vez voce morre, porque sabe demais. Avisaram que quando minha mulher chegasse, eu seria vigiado e deveria permanecer com ela no pátio em lugar pré-determinado por eles, porque colocariam dois casais ao meu lado para que eu não dissesse alguma bobagem para minha mulher. No dia da visita, assim que minha mulher chegou, entreguei um bilhetinho a ela ao darmos as mãos, graças a Deus ela entendeu e o manteve nas mãos até poder esconde-lo. Expliquei a ela que tinha que trazer o dinheiro na próxima semana e entregar para a mulher que iria falar com ela na saída e que nada contasse aos policiais, na carta que dei a ela, expliquei por alto o que acontecia e pedi que avisasse imediatamente meu advogado para que me tirasse daquele lugar. Consegui pedir isso a ela na despedida na porta de saída da cadeia ao beijar seu rosto pedi: avise meu advogado que corro risco de vida. Ela respondeu que avisaria. Nunca mais a vi.
Quando acabou a visita eles foram conversar comigo novamente e perguntaram se estava tudo certo, respondi que sim, eles disseram em tom ameaçador que se na semana seguinte, antes da visita o dinheiro não estivesse com a esposa dele, assim que a visita terminasse, eu morreria da forma mais violenta e lenta que eu poderia imaginar, disseram que eu imploraria que me matassem. A semana passou rapidamente, chegou o dia em que ou pagava, ou morria e sabia que isso iria acontecer, mesmo se pagasse, iria morrer, no bilhete que entreguei a ela disse isso, vá para longe não pague nada só avise meu advogado, ela não o fez e meu advogado não apareceu nesta semana, ela por medo, havia me abandonado a própria sorte e não podia condena-la por isso. Chegou o dia "D"... Logo que as celas se abriram, os caras vieram dar o ultimato: Se ela não vier e trouxer o dinheiro, assim que acabar a visita voce morre e deixaremos presos olhando voce. Permaneça no fundo do pátio até sua mulher chegar, nem tente sair daquele espaço, pois, tem gente de olho em voce, se tentar fazer algo, voce será levado para uma cela e morto lá mesmo na hora da visita. Como sair desta situação, não havia saída, sabia que iria morrer, porque ela não viria eu mesmo disse para não vir e muito menos traria o dinheiro que eles pediram, era o meu fim, estava arrasado, meus pensamentos eram um turbilhão de desespero, pavor e dor por ver minha vida acabar desta forma. Eram 09:00 h e tinha um preso que era evangélico e fazia sempre uma oração antes do início da visita, os presos que desejassem podiam entrar numa espécie de roda, onde todos davam-se as mãos e oravam, não tinha amizade com este preso ele como todos ali, sabiam de minha sentença de morte, mas, como ajudar? Ninguém podia. Para mim não havia mais saída, era meu fim. Na oração este preso evangélico que Também pregava a palavra na cadeia, pegou em minha mão direita e me trouxe para perto dele e antes de orar e pregar a palavra ele me disse, sem olhar para mim: Irmão fique calmo hoje voce terá uma grande benção. Jesus vai te salvar e começou a orar. A visita começou, confesso que não dei atenção as palavras dele e nem acreditei na salvação. As horas foram passando, minha tensão e o desespero aumentado, porque sabia que assim que a visita terminasse eu fatalmente teria uma morte horrível e nem gritar poderia porque realmente estava cercado e acuado num canto no fundo do pátio. Os policiais não me veriam e depois a atenção deles estava mais voltada para as visitas que entravam. Que vontade de gritar e lutar eu faria isso, porque não sou homem de apanhar e ficar parado, calado, mas, sabia que era o meu fim. A visita terminaria as 14:00 hs, eram quase 12:00 hs, portanto faltavam pouco mais de duas horas para o meu trágico fim de vida, quando um policial começou a chamar quatro presos para ir ao fórum em audiência. O primeiro foi chamado, o segundo, terceiro e por fim, chamaram meu nome, neste caso, chamada para audiência no fórum, eles não podiam impedir, pois, se eu não me apresentasse, eles entrariam na cadeia para me pegar e quando se vai ao fórum é a Policia Especial que faz a escolta e vai buscar o preso, eles são fortemente armados, em grande número e os presos os temem porque são violentos e não hesitam atirar. Fui caminhando lentamente em direção ao portão que separa a cadeia e a carceragem, senti-me como Daniel na cova dos leões passei por entre eles e não me tocaram, os presos que seriam meus executores se desesperaram e me viram sair ileso. O mais impressionante aconteceu quando cheguei ao fórum, não havia audiência marcada para mim naquele dia, fui chamado por engano, mas, ainda assim consegui falar com o Juíz e explicar minha situação, ele imediatamente mandou a procuradora do fórum enviar uma ordem urgente de transferência e que enquanto isso não acontecesse, que eu permanecesse em cela especial fora da cadeia.
Quando retornei, contei ao chefe dos investigadores o ocorrido dizendo que havia comunicado ao juiz que estava correndo risco de morte e que não poderia entrar na cadeia, não citei nomes, não o faria isso era algo que eu mesmo deveria resolver com eles por minha honra e dignidade. Ordenou então ao carcereiro que me colocasse na cela especial fora da cadeia, mas, mesmo assim o carcereiro levou-me até entrada da cadeia e me deixou ali, enquanto fechava as portas, colocou-me em risco desnecessário e Também a ele, pois, se os presos desejassem me pegariam e a ele, pois, só tinha um policial armado do outro lado vigiando e o que poderia ele fazer? Quando vira-me notaram que eu não entrariam, ainda me ameaçaram na frente do policial dizendo que eu era um cadáver ambulante e que eu estava com “medinho” de entrar na cadeia, respondi que um dia nos encontraríamos, somente eu e ele em outro local e ai sim resolveríamos nossas pendências como homem, pois ele era um covarde. Fui então transferido para Casa de Detenção de São Paulo hoje desativada e todos os dias esperava encontrar este cara que quase tirou minha vida e arruinou meu relacionamento, apesar que Deus mostrou com esta situação o quão não era importante minha vida para esta mulher. Nunca mais a vi e nem desejo, mas, depois de algum tempo, fiquei sabendo que meus quase executores, foram executados na mesma cadeia de forma violenta por outros presos, da mesma forma que queria comigo fazer.
Hoje sei que a saída daquele local e minha Salvação foram dadas por Jesus meu Salvador.
Glorifico a Ti Senhor por este Milagre em minha Vida!!
(CRIME FINANCEIRO CONTRA A ECONOMIA -PENA DEVIDAMENTE CUMPRIDA. VIVENDO UM NOVO RECOMEÇO). (Um Amigo)
